sábado, 21 de fevereiro de 2009

sem que

Pego num banco e sento-me entre os dois. Eles vão contando a história, atropelam-se um ao outro. A estrada estava escura, trazíamos o auto rádio ligado, passavam as notícias das sete, diz o primeiro. Das sete nada, diz o segundo, das oito. Ao longe vimos um carro da bêtê encostado à berma, diz o primeiro. Pirilampos acesos, diz o segundo. Junto a ele, um mercedes espetado contra uma árvore, diz o mesmo. Os polícias eram dois, lanternas na mão, mandaram encostar, diz o primeiro. Havia um terceiro polícia entre as árvores, diz o segundo. Isso para agora não interessa, diz o primeiro.
Encostámos o carro e saímos, diz o primeiro. Deixámos a chave na ignição, diz o segundo. Perguntei, há azar senhor agente?, diz o primeiro. Ambos fazem uma pausa. Procuravam o condutor do mercedes, disse o primeiro de novo. Não encontravam o condutor do mercedes, disse o segundo. Disseram para irmos com cuidado, disse o primeiro. Voltámos ao nosso carro, disse o segundo. Trancámos as portas, disse o primeiro. O carro ainda ligado, disse o segundo. E de repente alguém encolhido no banco de trás gritou, 'Bora! 'Bora!.
Ana Costa Ribeiro

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