sábado, 21 de fevereiro de 2009

A galinha da vizinha


crónica de Helena Pereira


É uma notícia de última hora: A inveja pode ter os dias contados. Terá certamente mais dificuldade em esconder-se, agora que uma equipa de cientistas japoneses descobriu que ela mora no córtex dorsal anterior do cérebro.
Ora já sabemos como isto acaba porque agora que têm uma morada, está-se mesmo a ver que o passo seguinte vai ser quererem eliminá-la de vez. Tudo porque, ao que parece, constataram num dos inúmeros e importantíssimos estudos por eles levado a cabo que: "as pessoas invejosas sentem mais prazer com a desgraça alheia". Parvoíce de facto. Muito mais lógico, isso sim, o sentirmos mais prazer com a nossa própria desgraça (e os masoquistas calados este tempo todo, os biltres).
Sinto-me na obrigação de me insurgir contra estes estudos. De pedir que parem.
Sou pela Inveja. "Tratar" a inveja equivale a criar um marasmo cancerígeno. É que Adão e Eva podem ter posto o mundo em movimento por terem cometido o erro de gostar de maçãs, mas foi a inveja que veio dar o salero à coisa. O décor de interiores é dela. Senão vejamos: se não fosse a inveja iam-se clássicos como os 101 dálmatas e a magnífica Cruela, Deus meu, ia-se a Cinderela e a sonsa da Branca de neve. Se não fosse a inveja, o adultério não tinha o mesmo significado, ninguém faria implantes de silicone, ou tingia o cabelo de louro, o botox nem existiria, e aquela questão do tamanho não importar seria finalmente verdade. O grau comparativo não faria sentido nenhum nos adjectivos, e palavras como maior e mais seriam sarcófagos nominais. Ninguém faria benchmarketing e o Bill Gates não teria criado o Microsoft Windows.
Por Zeus, estamos a falar da erradicação de um sentimento que penou muito para chegar onde chegou. Estamos a falar de um sentimento que vigora como um dos pecados capitais que dá acesso directo ao inferno, com direito a livre trânsito, sauna e banho turco.
Não se destrói assim o trabalho de uma vida.
Já não basta que ela esteja condenada à partida pela moral? A amiga sóbria e chata que aparece sempre no melhor da festa, que aparece no preciso momento em que nos preparávamos para gozar à grande, e que sem mais nem menos, nos manda para casa.
Qual é o mal de gozar os entretantos? Um bocadinho de inveja faz bem e recomenda-se. Mais não seja, dá-nos objectivos. A alguns até, dá-lhes um sentido à vida. Não contará para nada isto?
Sou pela Inveja, já disse.

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