quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O homem do SIADAP

crónica de Pitonisa

Para a maioria das pessoas, a sessão foi esclarecedora. O formadorcomeçou, forçosa e esforçadamente, no seu fato escuro amachucado, pordizer ter orgulho em ser funcionário público. Com ênfase, sorrindo,repetiu-o várias vezes, enquanto tentava estabelecer contacto visualconnosco. Seguiu-se a descodificação, com direito a power point, doSistema Integrado de Avaliação do Desempenho na Administração Pública.De funcionários públicos passámos a trabalhadores contratados emfunções públicas. Trabalhadores. Descobriu-se a pólvora de que devemostrabalhar por objectivos, ou seja, metas mensuráveis de cujo resultadodepende a maior parte da avaliação. A restante parte são oscomportamentos. E estabeleceu-se que ser trabalhador contratado emfunções públicas já não é uma situação vitalícia. O formador repetiu,até à nossa exaustão, a mensagem de que acabou a impunidade dotrabalhador.Até aqui tudo bem, quanto aos valores da organização, datransparência, do brio no que se faz, da responsabilidade a par daautonomia, da importância da avaliação para a melhoria do desempenho eda proporcional recompensa do trabalhador. O problema está na própriadefinição dos objectivos, no cumprimento dos prazos legais das váriasetapas do processo, nas quotas – as quotas! -, na falta de preparaçãode muitos dirigentes - e na sua impunidade -, no facto de não haverhetero-avaliação da base para o topo da pirâmide e na demagogia de porum lado se apregoar que o mais importante são as pessoas dostrabalhadores e por outro se acentuar a obrigatoriedade de gerirsegundo o princípio absoluto de menos empregados para aumento daprodutividade. Eu não acredito numa gestão desumanizada, que não vê otrabalhador enquanto pessoa – esta frase é tão básica que nem deviaser preciso escrevê-la.No final, aplicou novamente a fórmula do seu orgulho em serfuncionário público, gabando-se de a mulher o ver pouco, devido a eleser tão esforçado no trabalho público... Este trintão, que até deveráter um aspecto saudável em fato de banho na praia, este homem, na suailuminação, conseguirá ver mais a mulher do que ela o vê a ele? Maisum homem do sistema, simpático até e com capacidade de comunicação.Dou-lhe nota positiva, que agora se chama… tenho de ir ver à net.A palavra reforma enuncia-se no horizonte do meu imaginário, comonunca supus poder acontecer. Quero trabalhar, mas não com estúpidosnem a servir de acessório ou até brinquedo ao chefe. Portugal tem deavançar e crescer, mas não assim. E estes gestores entusiastas? Têm decomeçar por tomar banho todos os dias, o que não era ali o caso.Apesar de tudo e possivelmente em tom paternalista digo que, comopessoa, não desgostei dele, embora tivesse o cabelo oleoso e esse sejapara mim mais um sinal de falta de credibilidade. Tivesse ele o cabelolavado… não, também não. E ainda em negação, é nestes momentos que melembro dos jovens alunos que tive durante oito anos, a quem nuncaousaria tratar desta forma e pergunto-me: como se chega a isto?Despedimo-nos, após aceso debate em que muitos participámos, tendo-secumprido o objectivo da comunicação, informar as pessoas daquelenúcleo laboral, mas ficando todos a pensar nas atitudes ecomportamentos, no micro do nosso caso e no macro da sociedade.

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