sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

as 5 palavrinhas obrigatórias

Ele era alto, de aspecto gutural e nariz fino.
Calçava o 43 (pé pequeno para a envergadura), gostava de passear o seu Grand Danois Piruças pela fresca e tinha predilecção por caixas de fósforos.
35 anos, roía as unhas até ao sabugo, tirava o lixo debaixo das unhas com uma navalha e usava a sua camisa favorita de quadrados vermelhos de flanela.
Apaixonado por Nijinski e pelo Bailado Russo era mestre na arte de cortar a chouriça em pedaços fininhos para usar no caldo verde ou no arroz de pato.
Trabalhava na Tasca do Zé ao balcão cravado de nódoas de tinto alentejano, onde ainda escorria a gordura dos coiratos.
Um dia, depois de mais uma bebedeira com Moscatel de Setúbal andou ao murro a um preto. Ele chamava-lhe Mantorras, não pelo pé esquerdo que mesmo com rebites marca golos, mas porque é o que chama a todos os pretos para facilitar.
Fez-lhe uma placagem como no rugby e mandou-os ao chão com os seus ténis brancos da Nike.
Calçou as luvas, sacou da navalha com que limpava as unhas e esfaqueou-o ali na Tasca, entre o balcão e a montra dos sumos e dos queijos cheia de moscas.
Sacou do cigarro e foi fumar para a janela. Chovia mais uma vez e ele tinha deixado a roupa na corda.
Rossana Amador

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