sábado, 21 de fevereiro de 2009

sem 'que' - Marta Spínola

Um texto sem uma palavra cuja utilização é tão comum como pombos em Lisboa ou ratazanas em Veneza - de onde saiu a alusão a seres imundos, não sei, talvez queira alongar o meu texto sem saber bem como - não me parece nada simples.
Duvido mesmo conseguir fazê-lo até ao fim sem essas três letras me atraiçoarem. Vão infiltrar-se entre as outras palavras e só quando ler alto o vou perceber. Ou nem assim. Só talvez então perceba, como dizia o Emilio Aragon: ‘prueba no superada’ - mais uma associação inexplicável, deve ser da hora.
Não é simples, não. Uma pessoa agarra-se a ela, usa-a como se tivesse uma gaveta, um armário, um contentor cheio! Larga-a a todo o instante e em cada frase, se preciso for. E ela, simples e humilde, sem brilho nenhum especial, saltita nas conversas, e-mails e textos do dia-a-dia
A um canto ficam os primos, pomposos, elitistas, cuja utilização evitamos, não vá sair asneira devido a má aplicação, ou soar presunçoso. Guardamo-los para textos mais formais. Muitas vezes nem isso. É comum ver cujo, os quais e seus familiares metidos desastradamente entre palavras resultando numa frase sem nexo nenhum.
Hoje, dou-lhes permissão para desfilarem nesta folha, a essas palavras cujo uso vou negligenciando preguiçosamente. E das quais o brilho é bem maior em relação ao daquela outra do contentor onde se poderia ler, fosse ele real: só não usar em caso de emergência. É o caso deste texto.

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