sábado, 21 de fevereiro de 2009

José Sócrates é mesmo engenheiro


coluna de opinião de Susana Crispim


Descobri há pouco tempo duas coisas que me levaram a ver a nossa governação de um ângulo bem diferente do que tinha visto até à data. A primeira é o método eficaz e implacável que o Governo usa para baixar a taxa de desemprego. A segunda é que afinal José Sócrates é mesmo engenheiro. Estas descobertas são elas próprias algo extraordinário, verdadeiros furos jornalísticos, mas o mais incrível é que existe entre elas uma relação causa-efeito inquestionável.
A primeira revelação deu-se quando, ao dirigir-me ao Centro de Emprego onde estou – pensava eu – inscrita, me disseram que a minha inscrição tinha sido anulada. «Porquê, se ainda não estou a trabalhar?», perguntei. «Porque não devolveu o RSF a manifestar o seu interesse em continuar registada no nosso Centro», respondeu a funcionária com o ar feliz de quem domina estas questões. Estava dado o mote para uma conversa kafquiana que só teria fim quando eu decidisse renovar a inscrição ou levantar-me e ir embora. Como não quero ficar de fora das estatísticas, optei por inscrever-me de novo e agora sempre que noticiarem o número de desempregados em Portugal sei que faço parte dele. É uma versão compacta dos quinze minutos de fama televisiva, mas a mim basta-me. Porém, só depois percebi a real dimensão da coisa. Quem não recebe o RSF não sabe que está na altura de renovar a inscrição, logo não o faz, logo sai da lista de pessoas à procura de emprego. Há também a hipótese de o recebermos, devolvermos e ele não chegar ao destino, e vai dar tudo ao mesmo. Os funcionários do Centro de Emprego têm menos um freguês e o primeiro-ministro esfrega as mãos de contente. Mais fácil só de encomenda.
À palavra “encomenda” associei “correios” e pus-me a pensar porque é que não tinha recebido o tal RSF. Por defeito de formação, assumo, muni-me de imediato da minha lista de contactos em busca de quem pudesse esclarecer-me esta dúvida. Com um simples telefonema fiquei a saber, de fonte segura, o motivo pelo qual muita correspondência não chega ao seu destino. Não, a razão não é ter o código postal errado. A culpa é dos próprios funcionários dos CTT.
Na verdade e como a minha fonte não se inibiu de frisar, basta que um envelope caia para trás de um móvel para que deixe de existir. O mesmo pode acontecer a um postal, e está claro que se for daqueles que ainda por cima não têm selo – como os RSF – o processo simplifica-se.
Assim chegamos à minha segunda e talvez mais marcante descoberta, a de que José Sócrates afinal é mesmo engenheiro. Por mim arrumei o assunto e não aceito mais explicações. Vendo bem, só muitos anos de estudo e a posterior obtenção de uma licenciatura em engenharia levariam alguém a ter a leveza de usar um RSF para resolver um assunto tão importante como o emprego ou desemprego dos portugueses. Está bem que há aqui uma boa ajuda dos empregados dos CTT e até uma quota-parte de sorte, mas não podemos descurar o elevado grau de complexidade da ideia em si.
A partir de hoje a expressão “deve ser obra de engenheiro” tem, para mim, um novo significado e vou abolir o seu uso de forma leviana. E o melhor momento da minha vida após ter feito estas descobertas vai ser quando alguém me arranjar de facto um emprego.

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