sábado, 21 de fevereiro de 2009

Casar ou não casar, eis a questão


coluna de opinião de Sofia Oliveira

Há três meses o partido do Governo “proibiu” os seus deputados de votarem SIM na moção do Bloco de Esquerda sobre o Casamento de Pessoas do Mesmo Sexo (CPMS). Há um mês atrás o Secretário-Geral desse mesmo partido apresentou a moção para a sua re-eleição e, pasme-se, um dos pontos é precisamento o CPMS. Não me parece que em dois meses se mude de opinião num assunto desta natureza, diria é que a estratégia estava montada de ínicio. “Votemos agora NÃO para depois avançarmos com o assunto em nosso nome”, provavelmente terá sido este o pensamento e, sejamos honestos, a estratégia parece ter resultado porque se há três meses o Governo tinha todas as associações ILGA’s e afins a protestar, agora essas mesmas associações depositam fé na moção apresentada (isto não quer dizer que estejam cegos por ela).

A discussão sobre o tema está na agenda política e social dos dias que correm e será sempre uma discussão acesa apesar de nem sempre ser inteligente ou coerente. De um lado estão os que defendem o SIM do CPMS e do outro lado os que defendem o NÃO e no meio ainda há a Igreja que, por dogma, está do lado do NÃO mas que, por dogma também, deveria manter-se arredada da discussão, afinal a discussão é sobre o casamento cívil.

No outro dia ouvi num programa de televisão que talvez a razão deste tema ser tão fracturante é a utilização da palavra casamento. Pensei que talvez parte do problema, e só parte, residisse precisamente aí. Ponderei que seria possível chamar-lhe outra coisa mas lembrei-me que aí, com razão ou não, os que defendem o SIM iriam clamar a alto e bom som que isso seria discriminar e o problema manter-se-ia. Abandonei a fonética do problema e debrucei-me sobre a intransigência dos grupos que residem de cada um dos lados da barricada. Talvez este sim seja o maior problema para que este tema seja levado a bom porto. Acredito que a discussão do assunto o possa tornar mais visível e, assim sendo, terá de ser encarado mas para isso é necessário que essas mesmas discussões deixem de ser intransigentes e passem a ser inteligentes.

O NÃO ao CPMS utiliza argumentos que nem ao Casamento de Pessoas de Sexo Diferente possam ou devam ser aplicados, e tentando agarrar-se à impossibilidade biológica de procriar. Do lado do SIM vão-se agitando bandeiras e gritando contra a inconstitucionalidade da constituição. Acredito que o comum dos mortais não possa/deva ser castrado dos direitos mais básicos quer por religião, credo ou orientação sexual mas muitas vezes perde-se a razão pela forma como se travam as batalhas.

Esta discussão vai resumir-se, no fim, a uma luta de poderes. A um braço de ferro em que vencerá o mais persistente. Agora resta-nos esperar pelas eleições porque até lá toda a discussão do tema vai parecer folclore e depois, se o SIM passar, rapidamente aparecerão outras derivantes da mesma agenda, como a adopção.

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