sábado, 21 de fevereiro de 2009

as 5 palavras obrigatórias (em crónica)



Não gostando de futebol, gosto de râguebi. É um jogo honesto, toda a gente se suja e dá pancada e aleijam-se e, enfim, enche-se o olho ao espectador. E também tem uma tonalidade anglo-saxónica que cai sempre bem.
Gosto de râgueby, mas nunca seria capaz de ir a nenhum estádio ver um jogo de râguebi, embora seja capaz de ir à Luz ver o Benfica com toda a convicção, e isto apesar de não gostar de futebol, e isto apesar de nem sequer conhecer o plantel do Benfica, de não lhes conhecer a cara (só conheço aquele que é grego, Karagounis ou Katsouranis, conheço o Nuno Gomes, mas indivíduos tipo Mantorras passam-me ao lado, sei lá quem são, são nomes, apenas).
No fundo, gosto de ir à Luz para cantar. Aqueles cânticos e a águia Vitória arrebatam-me. É o mais próximo que consegui encontrar de um concerto dos Beatles, impossibilidade que já aprendi a aceitar.
Diz-me o meu pai que, dantes, ir ao estádio do Benfica era ainda melhor porque, chuva ou sol, as pessoas traziam comida, rissóis, croquetes, às vezes achavam chouriças e partilhavam com os outros adeptos. Às vezes lá ficavam, enregelados, de luvas, à chuva, mas aquela solidariedade que a gente pensa ser tão típica de Portugal era reconfortante.
Hoje em dia, todo o processo de ir à Luz tornou-se menos popular, mais asséptico. Vai-se de carro, vemos a grande catedral vermelha aproximar-se pela janela do carro, estacionamos e pronto. Vamos para o estádio, cantamos, vimos embora, um pulinho à Fnac talvez, casa.
Resta-nos o cachecol à volta do pescoço.
Gostava de poder comer rissóis e chouriça assada na Luz, mas esta aspiração é talvez como um concerto dos Beatles – não vai acontecer.
Habituei-me a aceitar isto.


Rita Faria

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