sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Difícil ser reconhecido


TPC: texto sem a palavra "QUE", Sandra Campos


Estava eu ali à porta tão bem vestido e sorridente. Era noite de festa e todos tinham sido convidados para a “Sopa de Letras”.
- “Primeiro as senhoras” – anunciava o porteiro – um homem alto e bem-parecido.
Os sorrisinhos faziam-se ouvir. As senhoras entregavam os convites e entravam para o salão iluminado por luzes de velas. Tagarelas como sempre davam beijos e abraços.
- “Por onde tens andado?” – Perguntava curiosa a Maria “Portanto”.
- “Ahh...Por aqui e por ali a construir frases importantes” – Respondia a Rita “Com”.
- “Olha...vem ai o Luís “Porquê” – “Está tão diferente” – Todas olharam e sorriram felizes por ver mais um amigo conhecido.
E eu ali continuava, ao frio, a ver todos entrarem: a “Portanto”, a “Com”, o “Porquê” e mesmo o idiota do “Talvez” tinha conseguido. Estava furioso – “Serei invisível?”
- “Boa noite” – Aproximei-me do porteiro – “Aqui tem o meu convite”.
O porteiro olhou para mim com um olhar estranho. Verificou o convite várias vezes. Provavelmente estaria a verificar se seria verdadeiro.
- “Estará tudo louco?” - interrogava-me.
- “Bom...lamento dizer-lhe mas certamente houve aqui um equívoco” – afirmou.
- “Não pode ser” – Exclamei – “Sempre fui convidado e nunca houve qualquer problema”.
- “Pois, caro senhor” – Prosseguiu – “Mas hoje a festa é limitada a todos os amigos das frases elegantes. Por isso, o senhor não pode entrar” – Acrescentou, dando autorização ao João “Quão” e a Sofia “Quando” para entrarem.
- “Cambadas de inúteis” – Gritei, sentindo uma punhalada na minha alma gramatical, e fui-me sentar no passeio a olhar para a lua – “MAS “PI” (*) "PI" (**) DE VIDA!”

(*) “PI” substituição da palavra “QUE”

(**) "PI" substituição de um palavrão à vontade do freguês

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