sábado, 21 de fevereiro de 2009

coluna de opinião de Vasco Cardoso

Todas as crises económicas são uma espécie de revólver. Não porque matam a economia - aliás a humanidade já passou por umas quantas e nem por isso entrámos em processo de devolução irreversível. As crises económicas são como um revólver por serem, como qualquer outra ferramenta, algo que faz com que o inevitável aconteça mais depressa. São um catalisador da peneira que a evolução impõe. Claro que este processo de reciclagem tem subprodutos verdadeiramente dramáticos para muitas pessoas, mas não há como fugir dele, e feitas as contas, acabamos sempre por ficar melhor nos períodos pós crise do que nos encontrávamos antes (pelo menos em valores absolutos do PIB).
Uma actividade económica que está a passar por um destes processos de eliminação natural é o da imprensa escrita. Há já vários anos que o sector se encontra a encolher. O número de leitores diminui consistentemente e, com ele, o seu valor enquanto veículo publicitário (a maior fonte de receita). Inúmeras publicações fecham ou são adquiridas por outras de maior dimensão (que pagam para absorver concorrentes moribundos, efectivamente engrossando estruturas já de si obesas) etc. Pior ainda, este é um fenómeno geracional. São os mais jovens que não lêem jornais, e não os mais velhos que estão a deixar de ler. O que significa que o público da imprensa escrita tende para zero.
A indústria tem-se multiplicado em tentativas para apelar a novos públicos, empregando as mais variadas estratégias na tentativa de inverter a situação. Mas os mais novos simplesmente não lêem jornais. Para quê? O jornal é uma coisa lenta, desactualizada, estática e mais uns quantos adjectivos extremamente aborrecidos. Para quê ir buscar um monte de folhas que se escangalha todo se não lhe seguro com cuidado (já para não falar das questões ecológicas) quando posso ler as notícias através do meu elegante monitor TFT?
Para um jovem adulto, habituado a usar um computador como se fosse uma extensão do seu próprio corpo, a internet substitui qualquer publicação. Além disso, estamos já no momento em que a ubiquidade da Web se torna uma realidade: qualquer telemóvel está hoje ligado à rede (a não ser que estejamos no meio do monte, onde dificilmente quereremos ler o Ípsilon). O problema dos jornais é que simplesmente não podem competir com a Web, onde as notícias são actualizadas ao minuto (mesmo ao minuto!). Um jornal tão pouco pode colocar um vídeo ao lado do texto e muito menos me deixa colocar a minha valiosa opinião por baixo do artigo onde toda a gente o pode ler. A internet transformou o jornal num produto redundante que não poderá durar muito mais tempo.
As publicações como o New York Times, que souberem transformar-se num produto digital (estão fazê-lo devagar, mas estão) vão sobreviver e prosperar, transitando para os PC’s telemóveis e dispositivos como o Kindle da Amazon. As restantes vão abrir falência.
Uma mão cheia perdurará enquanto produto de luxo inusitado, para quem gosta de ser excêntrico, apenas para servir de excepção que confirmará a extinção do sector. A floresta amazónica agradecerá.

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