sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

sem que - Helena Pereira



Existem palavras obscenas. Minto. Todas as palavras são neutras - a obscenidade escreve-se a carne e osso. As palavras são sempre só palavras.Depois existem as chamadas palavras proibidas. Mas minto mais uma vez. Nenhuma palavra é proibida. Os seus significados, esses sim, podem ou não tornar-se indesejáveis. Porque as palavras são sempre só palavras. Há ainda aquelas - as palavras, das quais sentimos mais falta. E não me refiro apenas às com bons significados. Refiro-me essencialmente àquelas cuja função é apoiar-nos, dar força ao nosso discurso. E aqui entram as asneiras, porque nenhuma outra palavra nos serve simultaneamente de consolo, alivio e libertação. As asneiras são palavras condenadas à partida pela sujidade do seu campo semântico. Já a sua verdadeira mais valia está na criatividade permitida às suas construções sintáxicas. Pois bem, são quase duas da tarde e tenho fome. Apetece-me comer as seguintes palavras: bifes de porco secreto com arroz e batatas fritas. Tenho realmente muita fome porque hoje também não houve bolinhos. Como tal apetece-me dizer uma asneira. Merda por exemplo. Podia dizer porra porque sou uma menina, mas porra não chega a ser uma asneira. Mas dizer: tenho fome merda! é totalmente diferente de poder usar atrás de merda e antes de um ponto final, a única palavra that i can't write...

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