quinta-feira, 30 de abril de 2009

Perfil de Júlio Venâncio

Descrição física

Um homem nos trintas, aparentando mais idade.
Fraca figura, franzino. Cabelo castanho claro, encaracolado, cortado de dois em dois meses a dia 3.
Óculos grandes para a estrutura ossea da cara e fora de moda.
Usa sempre calças azul Vegas 1981, e um blusão creme. A roupa está sempre impecavelmente tratada.
Carrega consigo sempre um saco de supermercado.
Para a maior parte das pessoas é apenas um homem que passa na rua.
A sua fisionomia não levanta suspeitas, para quem o vê é um pobre coitado, um tolo. No limite um nerd.


Perfil psicológico

Cresceu anónimo: em casa, na escola, no mundo.
Amedrontado com o escuro, refugiou-se sempre em livros para usar como desculpa a luz acesa até adormecer.
Determinado e vaidoso, o interesse pela História das Ideias levou-o à escrita de ensaios que envia para universidades, academias e jornais da especialidade. Fá-lo acima de tudo por vaidade, pela oportunidade de exibir os seus conhecimentos que vai explorando continuamente.
Os projectos para assaltos são a forma de ganhar dinheiro. Vê como a sua inteligencia e perspicácia ao serviço dos pobres de espírito.
É hipocondríaco. Saudável, desenvolve alergias e síndromes imaginárias que passam ao primeiro vislumbre de uma frase Goethe.
A sua fraqueza é música dos anos 80 que o desvia da concentração nos estudos e teorias. Aos primeiros acordes de Electric Dreams ou Eye of a tiger nao resiste a aumentar o som, sempre nos auscultadores. Os vizinhos mal dão por ele.


Inserção social

Solitário. A familia emigrou há 10 anos para a Austrália.
Não tem amigos, o contacto com a familia são postais electrónicos que programou para serem enviados em aniversários e épocas festivas.
Teve uma namorada. E um namorado. Ambos no mesmo mês. Não gostou de nenhuma das experiências. Dispensou a companhia de alguem em nome da purificação da alma e da mente.
Experimentou fumar, beber, cheirar cocaína. Tudo lhe pareceu menor e sujo.
Não guia. Anda preferencialmente a pé e só se necessário recorre a transportes públicos.
O pequeno-almoço é um quarto de Vigor e come uma bola sem creme todas as manhãs no mesmo café onde o conhecem, embora não interaja com ninguém.
O seu dia-a-dia divide-se entre as aulas de História das mentalidades Moderna e Contemporânea e observar habitações. Nessas alturas traça mentalmente formas de as invadir.
A ideia de vender as suas ideias surgiu por um medo antigo. Sempre que via uma casa onde gostaria de morar, a primeira coisa que verificava era se seria de fácil acesso para um ladrão.
Nunca lhe ocorreu assaltar ele próprio casa nenhuma, por cobardia. Pensou aterrado que talvez tivesse nascido para roubar. Afastou logo a ideia, mediocre para a sua inteligência. Venderia a sua astúcia a outros, mais ignorantes.
No caminho para a perfeição está algo tão terreno como ter a casa mais segura do mundo. Para isso arquitecta regularmente planos para um assalto à própria casa, mudando-se sempre que verifica ser possível. Muda-se sempre dentro do mesmo bairro.

Marta Spínola

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