quinta-feira, 9 de abril de 2009

exercício: metáfora de Portugal + Crise

O jantar estava magnífico. Paulo tinha cuidado todos os pormenores para impressionar os seus ilustres convidados e conseguira. À mesa, iguarias de todo o mundo desfilavam debaixo dos olhos esfomeados dos convidados. “Requinte e fartura” era o lema a que Paulo se tinha proposto naquela noite. Fizera tudo para cumpri-lo à risca e conseguira. Os convidados estavam impressionados, com todas as expectativas superadas. O que não era difícil, uma vez que todos os presentes naquela jantar viam Paulo como um homem simples, bonito – os seus olhos azuis banhavam um rosto suave e agradável, o seu corpo robusto transmitia uma espécie de segurança preguiçosa e as suas grandes mãos apertavam com força e confiança quem o cumprimentava pela primeira vez. Para eles, Paulo não passava muito disto: um homem agradável e simpático, hospitaleiro, capaz de manter uma conversa coerente, assim uma espécie de amigo da borga, bom para beber uns copos na esplanada e entreter um pouco. Nunca o levariam por exemplo, a fechar um negocio sério ou pediriam conselho numa questão de extrema importância. Paulo estava farto disto e este jantar serviria para mostrar que ele era um homem de bom gosto, que sabia onde encontrar o bom e o melhor, tinha dinheiro para juntar numa mesma mesa requinte, fartura e bom gosto e, mais importante que isso, conseguia entreter 30 convidados ilustres durante 3 horas com a mais intelectual das conversas. E assim foi. O jantar tinha chegado ao fim e fora um sucesso astronómico e gastronómico.
Paulo estava exausto, sentia-se como se tivesse passado a noite em bicos dos pés, tentando parecer mais alto do que realmente era. A casa estava agora vazia, suja e desarrumada. Paulo tinha posto todo o seu esforço, talento e dinheiro naquela mesa. Estava falido, cansado mas feliz porque afinal tinha o ego e a barriga bem cheios. Foi aí que deu-lhe uma grande dor de barriga. Paulo correu para a casa de banho e quase não chegava a tempo. Fechou a porta e castigou o pobre trono branco durante meia hora muito barulhenta. Quando finalmente acabou, esticou o braço e apercebeu-se do pior. Na azáfama dos preparativos esquecera-se de comprar papel higiénico para a sua própria casa de banho. E agora estava ali, após uma festa estrondosa, sozinho numa casa de banho malcheirosa, sem nada para se limpar nem ninguém a quem chamar para o ajudar.

Andrea Ribeiro

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