quinta-feira, 30 de abril de 2009

Galinha do Campo & Galinha da Cidade



de Helena Pereira


Cara avó Cremilde, como estás?

Eu não vou lá muito bem. As galinhas poedeiras do aviário da Pontinha onde estou a trabalhar estão em greve há cerca de um mês já, recusando-se pura e simplesmente a porem mais ovos. Acusam a direcção de as estar a explorar, obrigando-as a trabalhar demasiadas horas seguidas sob uma má iluminação, que lhes tem secado as mucosas todas. Além disso, são pagas tarde e a más horas, sendo os farelos em volume insuficiente para suprir todas as suas necessidades.
Há por aqui uma enorme desigualdade na obtenção de oportunidades para ascendermos de poleiro, porque os melhores poleiros ficam sempre nas patas das mesmas. Por outro lado, se não atingirmos a produtividade esperada, somos facilmente descartadas e postas no olho da rua sem dó nem piedade. Não é de estranhar que os níveis de desemprego nunca tenham estado tão elevados como agora. .
Muitas destas minhas colegas, ao verem goradas as sua reivindicações, tem optado por regressar às suas capoeiras no campo, ou tentam fazer um rendimento extra no mercado negro – que isto vale tudo, para não se acabar num prato de moelas!
As coisas estão de tal forma que já oiço um burburinho sobre emigrar-se para prados mais verdejantes. As mais radicais pensam em operação para mudança de espécie. Não sei para quê, que as coisas para as vacas ou para os porcos também não estão melhores.
Esta greve delas, é o seu último recurso. Os galináceos do governo ficaram de lhes dar uma resposta até ao final desta semana, visto que o sindicato das galinhas – que as tem estado a apoiar, ameaçou estender a greve um pouco por todo o país.
Não sei no que isto tudo vai dar, mas para já, sabe-se, que se nada for feito, na Pontinha não haverão ovos para adornar esta Páscoa.

P.S: estou a poupar uns grãos de milho para ir viver para o pé de ti.. Creio que no campo ainda se respira melhor.

Beijos da tua neta.
Tonita

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