quinta-feira, 30 de abril de 2009

Cena do Metro, (Jesus e Júlio) por Ana Costa Ribeiro


01 – int. – Estação de metro (hora de ponta) Dia


O metro chega. Júlio está entre a multidão, é o primeiro junto à linha amarela. Traz uma pasta. Júlio carrega o botão que abre a porta da carruagem e ao entrar evita tocar na linha amarela com os pés.
Limpa o suor da testa com um lenço de pano que tira do bolso das calças.
Senta-se em frente a Jesus. Olha diversas vezes o relógio (nervoso).

Jesus ouve música com headphones, curte a música. Observa Júlio pelo reflexo da janela.

Toca um telemóvel. Júlio atende. Jesus baixa o volume do leitor de mp3 e ouve a conversa.



Júlio
Sim, o próprio.
...
Só estou livre a partir das 16.
...
Muito bem.
...
Diga-me a morada.
...
Júlio, atarantado, retira da pasta que está cheia
de livros, uma agenda e uma caneta.
Rabisca na agenda.
Como combinado.
...
Amanhã então.
...
Claro, até amanhã.


Júlio guarda apressadamente tudo na pasta. Chega à sua estação. Quando vai a sair, a agenda cai na confusão.
Jesus levanta-se, apanha a agenda de Júlio e tenta sair da carruagem atrás de Júlio mas a porta fecha-se.

Jesus fica de pé. Abre a agenda. Não tem identificação. Folheia as páginas. Só tem moradas escritas nos dias da semana. Parece código. Procura o dia de amanhã, onde também está escrita uma morada.

Jesus senta-se e tira os headphones.

Do bolso do casaco Jesus tira um pacote de açúcar onde se lê em caligrafia um número de telefone e a mesma morada.


Voz off feminina
A campainha não funciona. Quando chegares dá-me um toque.

Jesus fecha a agenda.


Jesus
Fuck.

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